Você tem noção de como chegamos nos resultados estéticos de nossas peças? Sejam elas peças de arte ou de design elas nem sempre saem conforme o esperado.
Nesse contexto o “acaso” e o tempo podem ser aliados poderosos.
Impossível generalizar no mundo das artes
é sempre um pouco difícil falar sobre processos criativos de peças de arte uma vez que não existe fórmula correta. Existe sim, o que funciona para cada indivíduo. Assim, preciso ressaltar que sempre que eu falo sobre maneiras de criar, eu falo apenas de minha experiência e como as coisas funcionam para mim.
Em relação a estética do meu trabalho pude notar com o passar dos anos uma evolução nítida – apenas ressaltando que o termo evolução não diz respeito a “melhorias” estéticas e sim e mudanças gradativas conforme o passar o tempo. Essas mudanças podem ocorrer por conta da interferência de fatores diversos.
Porque tudo muda?
O primeiro deles é a evolução da técnica (você pode ler mais sobre nesse post). Mas basicamente o que ocorre é que: quanto mais repertório técnico você tem, mais você se arrisca e compreende os limites e possibilidades para desenvolver novos produtos. Assim, existe uma tendência em mudar a linha estética de seu trabalho conforme você aprende novos meios de produzir algo.
O acesso também é algo que está diretamente relacionado ao resultado final de uma obra. Acesso no sentido de possibilidade de adquirir de materiais e ferramentas e de trabalhar com a matéria prima correta para cada circunstância.
Obra do Acaso
Outro fator é sobre o “acaso”. Eu gosto muito de falar sobre o acaso pois ele permeia de maneira íntima minha trajetória enquanto designer/artista. Foi o acaso que me levou a cerâmica e por conta desse feliz “acaso” que eu vivo da minha arte.
E relação a maneira como eu crio, antes de iniciar a concepção de qualquer arte, eu costumo ter uma visão – uma ideia – do que pretendo alcançar e como gostaria de me expressar. Porém, em muitos casos o resultado final da obra difere muito da ideia na minha cabeça. Em princípio isso pode se tornar um pouco frustrante, porém, foi o acaso que me trouxe resultados estéticos inesperados e surpreendentes que eu gosto tanto.
Tempo e Espaço
E complementando, um dos maiores fatores – no qual eu gostaria de focar nesse post – que influencia muito é o momento e local em que vivemos.
Como é sabido, o tempo e o ambiente interferem muito em nossa criatividade, ou seja, o espaço físico e temporal nos ajudam a contar nossas histórias de maneiras diferentes. Se uma pessoa vive em um ambiente urbano, por exemplo, é possível que ela se apegue mais as referências estéticas que lhes são ofertadas em seu dia-a-dia – o grafite, o concreto, linhas retas.
O passar do tempo também é importante na construção estética de uma obra a medida em que ele trás mudanças de percepções e paradigmas por parte do autor. Conforme envelhecemos passamos a gostar de coisas diferentes e deixamos de gostar de coisas que tanto amávamos e isso reflete diretamente em um trabalho.
Assim, uma das coisas mais interessantes ao observar a obra de um artista é em relação a sua evolução estética. É possível, através dela, compreender melhor sua caminhada e ver as diferenças em estilos entre sua primeira obra e a última.
Essa é uma lição valiosa em relação ao visual do trabalho de um artista: nem sempre a peça final é um resultado fiel a sua visão. Em muitas circunstâncias, ela surge do momento, das ferramentas e dos materiais que ele tem ao seu alcance naquele instante.